Garantia de boa estrutura

Cuidados com o planejamento e execução do cimbramento

Cuidados com o planejamento e execução do cimbramento evitam que lajes e vigas trabalhem precocemente e tenham sua resistência prejudicada.

Para a execução de uma estrutura de concreto saudável, o construtor precisa ter uma preocupação especial com o projeto de escoramento e reescoramento das lajes e vigas de seus edifícios. Esses elementos estruturais recebem, em idades precoces, solicitações importantes decorrentes do peso próprio e de outras cargas. A divisão justa desse carregamento permite evitar patologias na estrutura e na alvenaria, e é obtida com dimensionamento e distribuição corretos do número de escoras e com um planejamento correto do transporte dessas peças.

Quando uma laje ou uma viga é concretada, é necessária uma ajuda enquanto o concreto não atinge resistência mínima para a qual a estrutura foi projetada.Por isso, destacam-se, por algumas semanas,apoios para que a carga da estrutura seja ponderadamente distribuída entre os pavimentos. Há diversos tipos de apoios: torres, mesas voadoras metálicas ou escoras – feitas em madeira ou metal (ver quadro Sistemas de Escoramento). Reescoras são as escoras que continuam sustentando a estrutura até a cura completa do concreto.

Essa, aliás, parece uma terminologia pouco precisa. Segundo Maurício Bianchi, diretor técnico da BKO, a palavra reescoramento pode levar a crer que as novas escoras são posicionadas posteriormente ao escoramento da laje concretada. Trata-se de uma herança de como se realizava esse serviço na década de 1970. O projetista de fôrmas e escoramentos Paulo Assahi concorda: “O mais adequado é chamar de escoramento remanescente, já que são escoras que permanecem após o descimbramento da viga e laje”, afirma. Ele acrescenta, ainda, que o procedimento mais indicado é que essas peças sejam posicionadas antes ou durante a concretagem, para que haja uma distribuição de cargas mais uniforme.

“As lajes estão recebendo carga muito cedo”, afirma o projetista de estruturas Ricardo Leopoldo e Silva França. Ele explica que, a cada ciclo de concretagem, há dois momentos críticos de redistribuição de cargas. O primeiro impacto ocorre quando o reescoramento do nível mais inferior é retirado e transportado para apoiar a nova laje. Ele pode ocorrer entre o primeiro e o terceiro dia do ciclo (para ciclos de quatro e sete dias, respectivamente).O outro momento é o da concretagem do pavimento superior, quando a laje recebe uma nova carga. Esta solicitação ocorre sempre no último dia do ciclo.

Os esforços prematuros podem causar danos em níveis microscópicos à estrutura. Material heterogêneo, o concreto é composto basicamente de brita e argamassa, além de alguns aditivos. Durante a cura, conforme explica França, a tendência da argamassa é de se retrair, enquanto a brita permanece com seu volume natural. É normal, portanto, ocorrerem microfissuras nessa interface argamassa-agregado. Entretanto, se a tensão a que o concreto é submetido é exagerada – mais do que 50% da sua resistência -, a estrutura começa a sofrer danos permanentes, comprometendo a resistência real do material. “Há uma grande diferença entre os corpos-de-prova ensaiados e o concreto lá da estrutura. Este último está sofrendo muito mais”, afirma França. “As pessoas não costumam se preocupar com o que não conseguem ver. Elas acham que se não há fissuração aparente, então a estrutura está saudável, e não é bem assim”, alerta.

Outro projetista de estruturas, Francisco Graziano, explica que também há um crescimento desigual dos índices de rigidez e de resistência do concreto. Geralmente, o primeiro é mais rápido do que o segundo. A conseqüência disso é que laje ou viga tende a “chamar para si” uma carga que ainda não agüenta nas idades mais jovens. “Isso contribui para que se potencializem os problemas de sobrecarga e fissuração”, afirma Graziano.

AUTOR: R.F.

Revista téchne